Topu Honis
Daschbach, um americano originário de Pittsburg, EUA, chegou à ilha em 1966. Em 1992, estabeleceu a Topu Honis Shelter Home, que possui dois espaços no Oecusse. http://www.topuhonis.org/.Segundo o site da organização, é 'um refúgio seguro' para órfãos, “crianças de lares extremamente pobres, adultos com deficiências e mulheres que fogem de abuso.” A Topu Honis divulga que fornece cuidados de saúde, alimentos, escolaridade, 'abrigo e segurança', apoio financeiro para a educação, oportunidades de emprego e preservação cultural. Ao longo dos anos, "serviu mais de 600 crianças e adultos na área", diz o site.
Abuso sexual
No entanto, nos bastidores a realidade era outra. No orfanato de Kutet, as raparigas eram alegadamente abusadas sexualmente por Daschbach, segundo o padre Yohanes Suban Gapun, o superior regional da SVD, baseado em Dili. No início de 2018, a Congregação recebeu informações que alertavam para situaçõesde abusos sexuais, pelo que, como resposta, o Superior Geral da SVD, em Roma, enviou um correio electrónico para Gapun, solicitando-lhe que fosse ao Oecusse e para que Daschbach viesse a Díli. Enquanto a congregação investigava o caso, o padre foi suspenso e proibido de realizar celebrações eucaristicas. Duranteuma conversa telefónica com o Superior Geral, em Roma, Gapunafirma ter ouvido Daschbach confessar, dizendo "É 100% verdade". Gapun comentou ainda que "Ele repetiu isso quatro vezes."
O caso representa um verdadeiro choque. "Nós nunca esperávamos tal de um homem que se dedica ao povo. Ele é como o pai daquela comunidade, que ele próprio construiu, alimentou e apoiou com todo tipo de ajuda. (…) Esta é uma verdadeiradesgraça. Uma catástrofe. Uma situação muito dramática. Um idoso de 82 anos a ser acusado de pedofilia”, disse Padre Jovito.
Tempo Timor contatou Daschbach, mas não obteve qualquerresposta.
Enquanto isso, as investigações criminais encontram-se em andamento, o que significa que as possíveis vítimas e testemunhas, bem como as suas identidades, são protegidas porlei.
Volta à Kutet
Os líderes da SVD tinham instruído para que o padre ficasse em Díli. No entanto, a 19 de agosto de 2018, sem autorização dos seus superiores, Daschbach deixou as instalações da SVD, voltando para Kutet, no Oecusse, onde se encontra até o momento. Pouco antes da sua partida, o padre disse que renunciaria à congregação SVD.
Processo penal
Enquanto isso, as instituições da Igreja Católica continuaram o seu processo penal administrativo. A SVD eximiu Daschbachcomo membro, explica Gapun. Quando se trata de alegações de abuso sexual contra menores, é a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), localizada no Vaticano, quem lida com esses casos. Em novembro de 2018, a CDF emitiu oficialmente um decreto dedemissão de Daschbach. O Padre Jovito declarou: "Ele não é mais padre. Nós proibimo-lo de celebrar na comunidade e pedimos às pessoas que não participassem nas suas celebrações.”
A Igreja Católica em Timor-Leste ainda não informou a população sobre as razões pelas quais Daschbach foi exonerado, pelo que tem agora apenas o estatuto de leigo. "De forma geral,dissemos às pessoas que ele cometeu um crime que não foi absolvido pela Igreja Católica, em Roma, e que foi expulso do clero." Quando questionado se a Diocese está a planear publicar a decisão e os seus motivos, Padre Jovito disse: 'Não sou eu quemtoma as decisões. Mas, acho que as pessoas deveriam saber. O Vaticano confirmou a decisão final relativamente a um padre que cometeu abusos deste tipo.”
A celebrar missa
A 30 de dezembro de 2018, o Padre Jovito foi até Kutet para impedir que Daschbach celebrasse missa. "Mas quando lá cheguei, ele já tinha celebrado. Fiquei com raiva, porque ele játinha recebido a carta da Diocese onde era claro que não tinhamais permissão para celebrar. Eu disse ao povo: se quiseremajudá-lo, será melhor não irem às suas celebrações. Ele não é mais considerado padre. Ele aceitou a acusação e assinou a carta relativa à acusação sobre o comportamento enganoso e ilícito que cometeu.”
Etapas adicionais
Como Daschbach recusandose a seguir as regras e as penalidades impostas pela Igreja Católica, a Diocese está a considerar novos passos. "Ele têm de ser preso", disse o Padre Jovito, acrescentando: ‘Talvez precisemos de o mandar de volta para asua cidade natal ou para a Indonésia, porque ele foi missionário na Indonésia por muitos anos. Ele cometeu um crime. Não deveficar em Timor-Leste.”